domingo, 5 de setembro de 2010

O sorriso (story)

   E eu continuava a andar por aquelas ruas agitadas, nem parecia aquela simples cidade do interior. Parecia que tudo e todos resolveram vir para o mesmo lugar. Talvez fosse exagero meu. Nunca gostei muito de agitação e aquilo tudo me irritava, eu só queria passar uns dias em paz e nem isso eu conseguia. No meio de tanta fúria, alguma coisa fez com que tudo mudasse. Podia até ser loucura, mas eu tive a sensação de borboletas voando no meu estomago. Finalmente eu conseguia entender o sentido de tal expressão. Eu podia olhar pra qualquer lugar, só que nada fazia mais sentido, só aquele sorriso.
   Por que aquilo estava acontecendo comigo? Ao mesmo tempo que eu tentava me convencer que eu estava delirando, que não podia estar acontecendo, eu me perguntava o que aquele cara tinha de diferente dos outros. Criava coragem e depois perdia, será que não ia me decidir nunca? Ia ou não até ele?Com tanta coisa na cabeça, acabei nem percebendo que o tal cara não parava de olhar na minha direção. Eu sem entender, fui me confundindo cada vez mais. Não sabia ao certo se retribuia, ou se era só coisa da minha cabeça, talvez ele nem estivesse olhando pra mim. 
   Sentia medo, porque a qualquer momento ele poderia sair de perto de mim, nós estávamos em uma praça e a omeçar uma apresentação de teatro. Era incrível como todo mundo parecia estar acompanhado. Enfim o teatro iria começar, ajudantes me acompanharam até minha cadeira. Eu tive que parar de olhar para o dono do sorriso e seguir em frente. Quando eu sentei, fui procurar por ele, então me detive, parecia que seus olhos já tinham me achado. Eu não lembro nem metade da apresentação. Nada parecia que ia dar certo, resolvi então voltar para casa, podia ser que eu estava perdendo meu tempo. Apesar de discordar completamente dos meus pensamentos. 
   Estava no caminho de volta quando uma mão me segurou. Fiquei com medo de olhar para trás e ver quem era, minha cidade era calma e não tinha violência, impossível eu ser a primeira a ser uma vítima, mas mesmo assim alguma coisa não deixava eu virar e ver quem era. Percebendo que eu não ia me mover, a pessoa eu a volta e parou na minha frente. Eu só podia estar sonhando... O que ele, sim, aquele cara, estava ali parado diante de mim e eu não conseguia fazer, nem dizer nada. Completamente sem ação eu fiquei esperando o momento em que ele diria Alguma coisa. Ele me explicou que tinha vindo passar uns dias com a sua família para descansar, disse que se sentia deslocado e só queria conhecer alguém. Pediu desculpa por ter me assustado. Eu ainda não acredito que um anjo daquele podia achar que assustava alguém.
   Eu continuava sem falar nada, seu rosto parecia mesmo com um anjo, cabelo enrolado, olhos castanhos... Não um anjo típico... Só que me dava a mesma sensação de estar no céu. Finalmente eu falei alguma coisa, me apresentei e disse que eu podia apresentar a cidade para ele... Sem querer me cortar ele disse que já tinha passado a semana inteira andando para cima e para baixo, que ele só queria sentar e conversar um pouco. Eu entendi, sei bem como era chato ficar andando e acabar não conhecendo ninguém. 
   Sentamos em uma sorveteria, parecia ser o lugar mais calmo que a gente conseguiu achar. Depois de fazermos o pedido ele me contou que ia embora no dia seguinte. Eu fiquei muito mal, eu tinha acabado de conhecer ele e já era de tarde. Injusto, muito injusto comigo, eu finalmente tinha encontrado alguém que me fazia sentir diferente e tudo acabaria desse jeito? Com ele indo embora? Não podia ser. Eu fiz questão de esquecer esse detalhe e a conversa foi rolando. Quando eu olhei no relógio era muito tarde e só tinha nós dois na sorveteria, o dono queria fechá-la e tivemos que sair. Seu celular começou a tocar, era a irmã dele, disse que sua mãe não estava muito bem e que teriam que ir embora mais cedo. Ele ficou super preocupado, só que não queria ir embora.
   Eu já tinha me acostumado com a ideia que ele não ficaria muito tempo perto de mim e disse que tudo bem, era a mãe dele e que ele deveria ir ver o que estava acontecendo. Ficamos segundos sem nada dizer, apenas olhando um para o outro, eu, particularmente, tentando memorizar seu rosto, para nunca mais esquecer. Sua voz quebrou o silêncio, dizendo: 'Eu não queria que fosse assim...', isso só piorou a minha situação, e não consegui evitar... Uma lágrima rolou, era tão gelada e tão lenta. Senti sua mão pousando no meu rosto. Eu fechei os olhos, pensando que talvez quando eu os abrisse ele já tivesse partido. Ao invés disso, seus lábios pousaram sobre os meus. Era tão leve, tão calmo... Parecia que duraria pra sempre. Aos poucos nossas bocas foram se afastando. Ele beijou minha testa e perguntou se eu ficaria bem, sem outra saída disse que sim, mesmo sabendo que não. Então ele se foi... Fiquei parada enquanto ele foi andando, não ajudou muito ele ficar olhando para trás.
   Conforme eu seguia andando, senti uma gota, parecia que ia chover. Só que isso já não importava mais. Eu lembrei que não tinha pego nada dele, nem msn. Era tanta afobação por ter ele do lado que eu não pensei nos detalhes... Já era tarde demais. Eu não poderia fazer mais nada. Tudo o que restou foram lembranças, que nada, nem ninguém conseguiram tirar de mim.

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