quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cenário em chamas

   Acho que todo mundo já passou pelo que eu estou passando, ao menos uma vez na vida. Até hoje me lembro de quando, na minha infância, meus pais costumavam dizer que eu encontraria pessoas que seriam minhas colegas por toda parte, mas amigos de verdade seria difícil de encontrar. Tenho que admitir que de início eu achava tudo aquilo uma ladainha boba, de pais que querem proteger demais e manter os filhos em redomas de vidro. Acontece que o tempo passa e nós começamos a dar valor para o que nossos pais sempre disseram.
   Já ouviu dizer que devemos respeitar os mais velhos? Que eles têm mais experiência na vida? Provavelmente esses conceitos não surgiram de um surto psicótico de alguém. Pena que na maior parte das vezes, nós, jovens, nos deixamos levar pelo instinto de sabermos tudo, de sermos mais modernos ou pelo simples fato de ainda não termos quebrado a cara. Mas o seu dia também vai chegar e você vai perceber que, muitas vezes, nada vale mais do que a voz da experiência, do que aquele bom e velho conselho de mãe, de pai, de vó. 
   Não é questão de que "nada é para sempre", é questão de saber se aquilo um dia realmente existiu. Com essa lei imposta de boa convivência, às vezes nossa vida vira um teatrinho ridículo, onde fingimos diariamente que tudo nos convém, que tudo é lindo. Quando fingimos, a qualquer momento estamos sujeitos a deixar nossas máscaras caírem e, enfim, a peça tem um final trágico, digno de Shakespeare. Elas caem e depois é torcer para ninguém perceber, porque se perceberem, a bilheteria fecha.
   Acredito que todos estamos sujeitos a protagonizar esse teatro, ou apenas ser mais um no elenco. Virou um costume tão grande, que nem mesmo percebemos o que estamos fazendo. É como se passássemos de atores à fantoches. Acontece não é? O que podemos fazer? Vivemos em um mundo em que desde que nascemos, somos números. Números com a função de manter a mesma vida que os que vieram antes de nós, em sequência, sequência essa sem mudança.
   Há alguns dias percebi que estava dentro de uma peça, não minha, mas de outros. Eu era apenas mais um do elenco, meu papel parecia perfeito de início, cheio de amigos, cheio de alegria. Só que dessa vez as cortinas não se fecharam a tempo de um final feliz, elas inclusive ainda estão entreabertas. O tempo está nublado, no cenário cai uma chuva fina e uma névoa deixa minha visão turva. Ao fundo existem velas, comemorações, não estou lá. Aqui é realmente meu lugar?
   E aí? Qual será a próxima peça? Ainda não sei, estou confusa... Devo protagonizá-la ou permanecer apenas como mais um no elenco? O que importa? No final das contas alguém sempre sai machucado, seja eu, seja você ou qualquer outro.